sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tirem-nos tudo, mas não nos levem a música...

Por que o melhor filme da Mostra Internacional de CINEMA (WE ARE TOGETHER) foi uma melodiosa maneira de "ilustrar o poema abaixo", que o diretor provavelmente nunca ouviu...
Por que foi a melhor coisa da Balada Literária...

Por que o povo brasileiro tem tanto em comum com africano, que chega a confundir, misturar...

Por que eu entendi que não só eu que acho que música é tanto...





SÚPLICA

Tirem-nos tudo, / mas deixem-nos a música!

Tirem-nos a terra em que nascemos, / onde crescemos / e onde descobrimos pela primeira vez / que o mundo é assim: / um tabuleiro de xadrez...

Tirem-nos a luz do sol que nos aquece, / a lua lírica do xingombela / nas noites mulatas / da selva moçambicana / (essa lua que nos semeou no coração / a poesia que encontramos na vida) / tirem-nos a palhota - humilde cubata / onde vivemos e amamos, / tirem-nos a machamba que nos dá o pão, / tirem-nos o calor de lume / (que nos é quase tudo) / - mas não nos tirem a música!

Podem desterrar-nos, / levar-nos / para longas terras, / vender-nos como mercadoria / acorrentar-nos / à terra, do sol à lua e da lua ao sol, / mas seremos sempre livres / se nos deixarem a música!

Que onde estiver nossa canção / mesmo escravos, senhores seremos; / e mesmo mortos, viveremos. / E no nosso lamento escravo / estará a terra onde nascemos, / a luz do nosso sol, / a lua dos xingombelas, / o calor do lume, / a palhota onde vivemos, / a machamba que nos dá o pão!

E tudo será novamente nosso, / ainda que cadeias nos pés / e azorrague no dorso... / E o nosso queixume / será uma libertação / derramada em nosso canto! / - Por isso pedimos, / de joelhos pedimos: / tirem-nos tudo... / mas não nos tirem a vida, / não nos levem a música!


[ Poesia lida por Rogério Manjate durante
a Balada Literária. A autora, como ele, nasceu
em Moçambique. Chama-se Noémia de Sousa ]





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