sábado, 4 de abril de 2009

Garapa: mais uma sessão de `porrada`.




Lendo uma entrevista da envida da Folha de S.P ao Festival de Berlim, sobre GARAPA, último documentário de José Padilha, ela contava que ao final do filme, a única reação da platéia foi um longo silêncio.
Sim, o aclamadíssimo diretor do documentário Ônibus 174, (que inspirou o longa do Barretão) e diretor de Tropa de Elite, desta vez resolver falar de fome.Mas de fome velada, aquela em que não se tem tão pouco, que com o mínimo que se tem, se luta.
Filmado nos cafundós do nordeste brasileiro, dentro de casas de gente de verdade, o problema do filme é justamente este. É verídico demais. Em preto e branco, com cores de seca, sem trilha sonora, com cara de tudo o que ninguém quer ver.
O filme, de 2008, conta a história de três famílias, subnutridas, em casas aonde falta tudo. Até leite para a mamadeira das crianças (e são várias), falta, aí vai na garapa mesmo. No `mundo de lá`, garapa é água fervida com açúcar e intenção de que alguém vive daquilo.
Em recente entrevista, Padilha disse que um dos principais desafios da produção foi o de conseguir não dar comida aos participantes do filme; uma agonia.
Há uma hora em que a produção dá um analgésico a uma criança que chora de dor de dentes e o pai acredita que o menino esteja curado. Miséria tem adjacências.
Além da miséria, estão lá seus anexos: alcoolismo, ignorância, regiões em estado de subdesenvolvimento total, falta de perspectiva. Em uma das cenas, o documentarista pergunta ao pai de uma das famílias porque eles não tentam evitar filhos, já que não conseguem alimentar os que tem. E escuta um sonoro:
“_ É Deus que dá. ”
E a esposa faz coro:
“_Eu não me dou com pílula... Se é pá pegá, pega.”
“_E quantos filhos a senhora tem?”
“_ É 11.”
Completa, às lágrimas, que `as veiz eles pedi merenda, aí eu tenho que dizê que num tem.”
Uma tristeza. Ao menos é verdadeira.
Ponto positivo do filme é o nú e cru, sem maquiagem. Não é, definitivamente, uma dramatização montada para celebrar a miséria alheia. Ponto positivo para o governo Lula, que populismos á parte, fez um fome zero, que não resolve, mas dá um prato de comida a quem vive de garapa. Ponto positivo para o diretor, que tem feito de sua vida profissional uma denúncia constante e tão necessária. Ponto negativo para a humanidade, que ainda tem 920 milhões de famintos e se mostra incompetente demais para resolver isto.

Foto: divulgação

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