segunda-feira, 23 de março de 2009

Nosso lixo televisivo de cada dia!






O post de hoje, vai tratar de um absurdo, uma bizarrice total e completa que permitimos que aconteça, há 9 longos e tenebrosos verões:
O BIG BROTHER



prova do quão miseráveis somos todos nós e miseráveis de tudo: alma, coraçaõ e mente.
O texto, do João Coutinho se faz essencial, principalmente depois de comparado ao do Gimenstein, que fala da herança de nossa pobreza: o risível nível da educação brasileira (comprovado ontem pela reportagem do fantástico que falava dos erros em livros didáticos_
QUE VERGONHA).
Bem, por hora fiquemos com o João. Depois, mais bomba. Quem sabe passando bastante vergonha a gente não decide se mexer e fazer alguma coisa.





Comedores de lixo




Que dizer da história de Jade Goody? Caso não saibam, Jade Goody foi concorrente do Big Brother britânico, notabilizando-se por sua linguagem e comportamento vulgares. A Grã-Bretanha rendeu-se a ela e encontrou em Goody um novo símbolo da "informalidade" proletária que faz parte da nossa modernidade. Acontece que Jade adoeceu gravemente (com câncer). A notícia fatal, aliás, foi comunicada à própria em pleno programa televisivo, fazendo disparar as audiências. Mas o melhor ainda estava para vir: se Jade tinha câncer terminal, o melhor era morrer em frente às câmeras, proeza que Jade tem cumprido com profissionalismo de Hollywood. Das operações cirúrgicas às sessões de quimioterapia, sem esquecer o seu casamento-relâmpago, Jade aproveita as últimas semanas de vida para mostrar ao mundo o seu lento caminho para o fim. Não é de excluir que a tv filme o seu último suspiro. Os produtores garantem que não. Mas se as audiências exigem tudo, por que raio não devem ver tudo? Essa é a questão. O caso de Jade tem alimentado debates inflamados na Grã-Bretanha. A discussão centra-se, invariavelmente, na falta de ética da televisão contemporânea, que se aproveita de uma mulher moribunda para fazer negócio. Vozes moralistas condenam os produtores, exigindo rápida intervenção do governo. E Jade Goody, quando confrontada com a pornografia do seu ato, afirma simplesmente que está a pensar nos filhos: duas crianças que ficarão sem mãe em breve e que, graças à prostituição sentimental de Jade, herdarão 1,7 milhões de euros. Pessoalmente, nada tenho a dizer: sobre Jade Goody e muito menos sobre a tv que filma a sua decadência física. Mas estranho que, no meio da gritaria, ninguém tenha dito o básico. E o básico não está na moribunda, muito menos na tv que filma a moribunda. O básico está numa população anônima de milhões de britânicos que permitem a existência desse caso, consumindo-o com voracidade mórbida. O fenômeno Jade Goody, e a repugnante vontade de o filmar até ao limite, não existiria se as audiências não existissem. Uma verdade banal? Longe disso. Uma verdade politicamente incorreta: no mundo radicalmente igualitário em que vivemos, não é de bom tom relembrar que as massas nem sempre escolhem com sabedoria e pudor. As massas são muitas vezes analfabetas e repugnantes. O pensamento politicamente correto prefere antes demonizar os produtores (no fundo, os "capitalistas") que exploram a pobre ingenuidade do povo. Um erro. E uma grosseira piada. Se existe doença neste caso, ela não está em Jade Goody ou no circo televisivo que a filma. Está nos comedores de lixo: gente que liga a tv para se empanturrar, literalmente, até a morte.

João Pereira Coutinho, 32, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Ed. Quasi), publicado em Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.E-mail: jpcoutinho@folha.com.br Site: http://www.jpcoutinho.com




Jane Goody: vilã ou coitada?

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